sábado, 4 de fevereiro de 2017

WEBQUEST "CONVERSANDO COM DEUS" - 9o ANO

















GINCANA "ÁTOMO E MATÉRIA" - 9o ANO



Itens a serem analisados


Formando na sala de aula grupos de no máximo 3 alunos preencha as seguintes informações técnicas: ano escolar/turma/nomes/números/dedicatória  - Cada aluno dedicará suas pesquisas a um químico famoso de sua preferência. Selecionará uma das suas descobertas e fará uma aplicação real ou imaginária segundo exemplos que serão dados em sala de aula.


Página título: ÁTOMO E MATÉRIA – com desenho em movimento


Introdução – Apresentação do trabalho
                   1.           
Pesquise o planeta Terra: o dia que ela parou, os seus 14 movimentos e o peso dela.
                     2.           
Dormir: 4/10/ 1582 – Acordar: 15/10/1582 (11 dias depois). Como isso foi possível?
                     3.           
Escala de Mohs
                     4.           
Pedras que crescem – como crescem e exemplos de alguns tipos
                     5.           
Como transformar em diamante: grafite, cinzas de cremação e caldo de cana de açúcar.
                     6.           
Por que o gelo flutua?
                     7.           
Os 7 estados físicos da matéria: Sólido, Líquido, Gasoso, Plasma, Condensado de Bose-Einstein, Plasma de Quarks e Gluões e Fluído Estruturado.
                     8.           

Por que uma panela de ferro não pega fogo, e o bombril que é de ferro, pega?

                     9.           
Por que fervura amolece a batata e endurece o ovo
                   10.         
Formas básicas dos flocos de gelo
                   11.         
Pesquise sobre a água: Pontes de hidrogênio, água dura e o poder da meditação sobre ela (vídeo)
                   12.         
Por que a água do mar é salgada? A água do mar está cada dia mais doce ou mais salgada?
                   13.         
Clepsidra – Relógio de água
                   14.         
Por que o vidro é classificado como líquido?
                   15.         
A lenda do Boitatá não tem um fundo de verdade?
                   16.         
STM – Microscópio de Tunelamento Eletrônico e foto da estrutura da matéria obtida com o STM
                   17.         
Qual a diferença entre fusão nuclear  e fissão nuclear Cite aplicações. Como o Sol “pega fogo” sem oxigênio?
                   18.         
As 12 partículas elementares do átomo
                   19.         
O que é Nano? Cite aplicações. O que é Angstron? Cite aplicações.
                   20.         
Prove que um relógio parado anda mais depressa que um relógio em movimento.

LIVRO "O PEQUENO PRÍNCIPE"

O Pequeno príncipe

ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY

I
Certa vez, quando tinha seis anos, vi num livro o desenho de uma jibóia que engolia uma fera. Eis a cópia do desenho.
Dizia o livro: "As jibóias engolem, sem mastigar, a presa inteira. Em seguida, não podem mover-se e dormem os seis meses da digestão."
Refleti sobre as aventuras da selva, e fiz meu desenho número 1 :
Mostrei minha obra prima às pessoas grandes e perguntei se o meu desenho lhes fazia medo.
Responderam-me: "Por que é que um chapéu faria medo?"
Meu desenho não representava um chapéu. Representava uma jibóia digerindo um elefante. Desenhei então, o interior da jibóia, a fim de que as pessoas grandes pudessem compreender. Elas têm sempre necessidade de explicações. Meu desenho número 2 era assim:
As pessoas grandes aconselharam-me deixar de lado os desenhos de jibóias abertas ou fechadas, e dedicar-me de preferência a outras matérias. Foi assim que abandonei, aos seis anos, uma esplêndida carreira de pintor. Eu fora desencorajado pelo insucesso do meu desenho número 1 e do meu desenho número 2. As pessoas grandes não compreendem nada sozinhas, e é cansativo, para as crianças, estar toda hora explicando.
Tive pois, de escolher uma outra profissão e aprendi a pilotar aviões. Voei, por assim dizer, por todo o mundo.
Tive assim, no decorrer da vida, muitos contatos com muita gente séria. Vivi muito no meio das pessoas grandes. Vi-as muito de perto. Isso não melhorou, de modo algum, a minha antiga opinião.
Quando encontrava uma que me parecia um pouco lúcida, fazia com ela a experiência do meu desenho número 1, que sempre conservei comigo. Eu queria saber se ela era verdadeiramente compreensiva. Mas respondia sempre: "É um chapéu". Então eu não lhe falava nem de jibóias, nem de florestas virgens, nem de estrelas. Punha-me ao seu alcance. Falava-lhe de outros assuntos, e as pessoas grandes ficavam encantadas de conhecer um homem tão razoável.

II
Vivi  portanto só, sem amigo com quem pudesse realmente conversar, até o dia, em que tive uma pane no deserto do Saara. Meu motor se quebrara. Estando sozinho teria que fazer o conserto: era uma questão de vida ou de morte, eu só tinha água para 8 dias.
Estando muito distante de uma terra habitada, imagine a minha surpresa, quando, ao acordar, ouvi uma vozinha estranha que dizia:
- Por favor... desenha-me um carneiro!
- Hein!
- Desenha-me um carneiro...
Pus-me de pé, como atingido por um raio. Esfreguei os olhos. Olhei bem. E vi um pedacinho de gente inteiramente extraordinário, que me olhava com curiosidade. Eis o melhor retrato que, mais tarde, consegui fazer dele.
Meu desenho é muito simples, pois só aprendi a desenhar jibóias abertas e fechadas.
Eu estava com cara de espanto, já que me encontrava muito distante de qualquer terra habitada. O homenzinho que eu via não parecia nem perdido, nem morto de fadiga, nem morto de fome, de sede ou de medo. Não parecia uma criança perdida no deserto, muito distante de qualquer lugar habitado. Perguntei- lhe:
- Mas ...  que fazes aqui?
E ele repetiu-me:
- Por favor ... desenha-me um carneiro ...
Quando o mistério é muito impressionante, a gente não ousa desobedecer. Por mais absurdo que aquilo me parecesse, tão distante de lugares habitados e em perigo de morte, tirei do bolso uma folha de papel e uma caneta. Disse-lhe que eu não sabia desenha e ele me respondeu:
- Não tem importância. Desenha-me um carneiro.
Como nunca havia desenhado um carneiro, refiz para ele um dos dois únicos desenhos que sabia: o da jibóia fechada e fiquei espantado de ouvir o garoto replicar:
- Não! Não! Eu não quero um elefante numa jibóia. A jibóia é perigosa e o elefante toma muito espaço. Tudo é pequeno onde eu moro. Preciso de um carneiro. Desenha-me um carneiro.
Então eu desenhei.
Olhou atentamente, e disse:
 - Não! Esse já está muito doente. Desenha outro. 
 Desenhei de novo.
Meu amigo sorriu:
- Isto não é um carneiro. É um bode... Olha os chifres...
Fiz mais uma vez o desenho.
Mas ele foi recusado como os anteriores:
- Este é muito velho. Quero um carneiro que viva muito.
Então, perdendo a paciência, rabisquei o desenho ao lado.
E arrisquei:
- Esta é a caixa. O carneiro está dentro.
Mas fiquei surpreso de ver iluminar-se a face do meu pequeno juiz:
- Era assim mesmo que eu queria! Ele come muito?
-  Qualquer coisa chega. Eu te dei um carneirinho de nada!
- Não é tão pequeno assim... Olha! Adormeceu...
E foi desse modo que eu travei conhecimento, um dia, com o pequeno príncipe.


III
Levei tempo para compreender de onde viera. O principezinho, que me fazia milhares de perguntas, não escutava as minhas. Palavras pronunciadas ao acaso é que foram, pouco a pouco, revelando tudo. Assim, quando viu pela primeira vez meu avião, perguntou-me:
- Que coisa é aquela?
- Não é uma coisa. Aquilo voa. É um avião. O meu avião.
Então ele exclamou:
- Como? Tu caíste do céu?
- Sim, disse eu.
- É engraçado...
E o principezinho deu uma risada, que me irritou profundamente. Gosto que levem a sério as minhas desgraças. Em seguida acrescentou:
- Então, tu também vens do céu! De que planeta és tu?
Entendi então o mistério da sua presença, e perguntei:
- Tu vens então de outro planeta?
Mas ele não me respondeu.
-É verdade que, nisto aí, não podes ter vindo de longe...
Pensou durante muito tempo. Depois, tirando do bolso o carneiro, ficou contemplando o seu tesouro.
Fiquei intrigado com aquela frase sobre "os outros planetas". Quis saber mais um pouco.
- De onde vens? Onde é tua casa? Para onde queres levar meu carneiro?
Ficou meditando em silêncio, e respondeu depois:
- A caixa que me deste servirá de casa  à noite e te darei uma corda e uma estaca para amarrá-lo durante o dia.
A proposta pareceu chocá-lo:
- Amarrar? Que idéia esquisita!
- Mas se tu não o amarras, ele vai-se embora e se perde...
E meu amigo deu uma nova risada:
- Mas onde queres que ele vá?
- Não sei... Por aí... Andando sempre para frente.
Então o principezinho observou, muito sério:
- Não faz mal, é tão pequeno onde moro!
E depois, melancólico, acrescentou:
- Quando a gente anda sempre para frente, não pode mesmo ir longe...

IV
Pude perceber que seu planeta de origem era pouco maior que uma casa!
Não era surpresa para mim. Sabia que além dos grandes planetas há milhares de outros, tão pequenos que mal se vêem no telescópio.
Acho que o planeta do príncipezinho era o B-612
Quando a gente lhes fala de um novo amigo, as pessoas grandes jamais se informam do essencial. Não perguntam nunca: "Qual é o som da sua voz? Quais os brinquedos que prefere? Mas perguntam: "Qual é sua idade? Quantos irmãos ele tem? Quanto pesa? Quanto ganha seu pai?" Somente então é que elas julgam conhecê-lo. Se dizemos às pessoas grandes: "Vi uma bela casa de tijolos cor-de-rosa, gerânios na janela, pombas no telhado..." elas não conseguem, de modo nenhum, fazer uma idéia da casa. É preciso dizer-lhes: "Vi uma casa de duzentos mil reais". Então elas exclamam: "Que beleza!"
As crianças devem ser muito indulgentes com as pessoas grandes.
Gostaria de ter começado esta história à moda dos contos de fada:
"Era uma vez um pequeno príncipe que habitava um planeta pouco maior que ele, e que tinha necessidade de um amigo..." Para aqueles que compreendem a vida, isto pareceria sem dúvida muito mais verdadeiro.
Se tento descrevê-lo aqui, é justamente porque não o quero esquecer. É triste esquecer um amigo. Nem todo o mundo tem amigo. E eu corro o risco de ficar como as pessoas grandes, que só se interessam por números.  Comprei alguns lápis, mesmo sabendo que é duro pôr-se a desenhar na minha idade, quando nunca se fez outra tentativa além das jibóias fechadas e abertas.
Não sei ver carneiro através de caixa, sou um pouco como as pessoas grandes. Acho que envelheci.
V
Dia a dia eu ficava sabendo mais alguma coisa do planeta, da partida, da viagem, e foi assim que conheci o drama dos baobás.
Dessa vez ainda, foi graças ao carneiro. Pois bruscamente o principezinho me interrogou, tomado de grave dúvida:
- É verdade que os carneiros comem arbustos?
- Sim. É verdade.
- Ah! Que bom!
Não compreendi logo porque era tão importante que os carneiros comessem arbustos. Mas o principezinho acrescentou:
- Por conseguinte eles comem também os baobás?
Fiz notar ao principezinho que os baobás não são arbustos, mas árvores grandes como igrejas. E que mesmo que ele levasse consigo todo um rebanho de elefantes, eles não chegariam a dar cabo de um único baobá.
A idéia de um rebanho de elefantes fez rir ao principezinho:
- Seria preciso botar um por cima do outro...
Mas notou, em seguida, sabiamente:
- Os baobás, antes de crescer, são pequenos.
- É fato! Mas por que desejas tu que os carneiros comam os baobás pequenos?
- Por que haveria de ser? respondeu-me, como se se tratasse de uma evidência. E foi-me preciso um grande esforço de inteligência para compreender sozinho esse problema.
Com efeito, no planeta do principezinho havia, como em todos os outros planetas, ervas boas e más. Mas as sementes são invisíveis. Elas dormem no segredo da terra até que uma cisme de despertar. Então ela espreguiça, e lança timidamente para o sol um inofensivo galhinho. Se é de roseira ou rabanete, podemos deixar que cresça à vontade. Mas quando se trata de uma planta ruim, é preciso arrancar logo, mal a tenhamos conhecido.
Ora, havia sementes terríveis no planeta do principezinho: as sementes de baobá... O solo do planeta estava infestado. E um baobá, se a gente custa a descobri-lo, nunca mais se livra dele. Atravanca todo o planeta. Perfura-o com suas raízes. E se o planeta é pequeno e os baobás numerosos, o planeta acaba rachando.
"É uma questão de disciplina, me disse mais tarde o principezinho. É preciso que a gente se conforme em arrancar regularmente os baobás logo que se distingam das roseiras, com as quais muito se parecem quando pequenos. É um trabalho sem graça, mas de fácil execução."
Às vezes não há inconveniente em deixar um trabalho para mais tarde. Mas, quando se trata de baobá, é sempre uma catástrofe. Conheci um planeta habitado por um preguiçoso. Havia deixado três arbustos..."
E, de acordo com as indicações do principezinho, desenhei o tal planeta.
Meninos! Cuidado com os baobás!
Quando desenhei os baobás, estava inteiramente possuído pelo sentimento de urgência.


VI
Comecei, pouco a pouco, a compreender, a vidinha melancólica do principezinho. Não tinha outra distração que observar a doçura do pôr-do-sol. Percebi isso quando disse:
- Gosto muito de pôr-do-sol. Vamos ver um...
- Mas é preciso esperar...
- Esperar o quê?
- Que o sol se ponha.
- Eu imagino sempre estar em casa!
Enquanto no Brasil é dia, do outro lado do mundo é noite. Se pudéssemos ir rapidamente de um lado a outro do mundo poderíamos ver o pôr-do-sol muitas vezes.
Mas no pequeno planeta do principezinho, bastava apenas recuar um pouco a cadeira. E contemplar o crepúsculo todas as vezes que desejássemos...
- Um dia eu vi o sol se pôr quarenta e três vezes!
E um pouco mais tarde acrescentaste:
- Quando a gente está triste demais, gosta do pôr-do-sol...
- Estavas tão triste assim no dia dos quarenta e três?
Mas o principezinho não respondeu.
VII
Pergunto-me:
- Um carneiro, se come arbusto, come também as flores?
- Um carneiro come tudo que encontra.
- Mesmo as flores que tenham espinho?
- Sim. Mesmo as que têm.
- Então... para que servem os espinhos?
Eu não sabia. Estava ocupadíssimo naquele instante,  desatarraxando do motor um parafuso muito apertado.
- Para que servem os espinhos?
O principezinho jamais renunciava a uma pergunta, depois que a tivesse feito. Mas eu estava irritado com o parafuso e respondi qualquer coisa:
- Os espinhos não servem para nada. São pura maldade das flores.
- Oh!
Ele me disse com uma espécie de rancor:
- Não acredito! As flores são fracas. Defendem-se como podem. Se acham terríveis com os seus espinhos...
Não respondi. O principezinho perturbou-me de novo:
- E tu pensas então que as flores...
- Ora! Eu não penso nada. Ocupo-me com coisas sérias!
Ele olhou-me estupefato:
- Coisas sérias! Tu falas como as pessoas grandes!
Senti um pouco de vergonha.
- Tu confundes todas as coisas... Misturas tudo!
Estava realmente muito irritado.
- Eu conheço um planeta onde há um sujeito vermelho, quase roxo. Nunca cheirou uma flor ou olhou uma estrela. Nunca amou ninguém e nada fez senão somas. E o dia todo repete como tu: "Eu sou um homem sério!" e isso o faz inchar-se de orgulho. Mas ele não é um homem; é um cogumelo!
- Um o quê?
- Um cogumelo!
O principezinho estava agora pálido de cólera.
- Há milhões e milhões de anos que as flores fabricam espinhos e os carneiros as comem, apesar de tudo. E não será sério procurar compreender por que perdem tanto tempo fabricando espinhos inúteis? Não terá importância a guerra dos carneiros e das flores? Não será mais importante que as contas do tal sujeito? E se eu, por minha vez, conheço uma flor única no mundo, que só existe no meu planeta, e que um belo dia um carneirinho pode liquidar num só golpe, sem avaliar o que faz, - isto não tem importância?!
Corou um pouco, e continuou em seguida:
- Se alguém ama uma flor da qual só existe um exemplar em milhões e milhões de estrelas, isso basta para que seja feliz quando a contempla. Ele pensa: "Minha flor está lá, nalgum lugar..." Mas se o carneiro come a flor, é como se as estrelas se apagassem! E isto não tem importância!
Não pôde dizer mais nada, pôs-se soluçar. Havia numa estrela, num planeta, o meu, a Terra, um principezinho a consolar! Tomei-o nos braços. Embalei-o. E lhe dizia: "A flor que tu amas não está em perigo... Vou desenhar uma pequena mordaça para o carneiro... Uma armadura para a flor... Eu...". Eu não sabia o que dizer. Sentia-me desajeitado. Não sabia como atingi-lo, onde encontrá-lo... É tão misterioso, o país das lágrimas!

VIII
Pude conhecer melhor aquela flor. Em seu planeta sempre havia existido outras flores muito simples, ornadas de uma só fileira de pétalas, e que não ocupavam lugar nem incomodavam ninguém. Mas aquela brotara um dia de um grão trazido não se sabe de onde, ele vigiara de perto o pequeno broto, tão diferente dos outros. Podia ser uma nova espécie de baobá. Mas o arbusto logo parou de crescer, e começou então a preparar uma flor. Ele, que assistia o desabrochar de um enorme botão, bem sentiu que sairia dali uma aparição miraculosa; mas a flor não acabava mais de preparar sua beleza. Escolhia as cores com cuidado. Ajustava uma a uma suas pétalas. Não queria sair, como os cravos, amarrotada, queria aparecer resplendorosa. Sua transformação durara dias e dias.
E ela, que se preparava com tanto esmero, disse, bocejando:
- Eu acabo de despertar... Estou ainda toda despenteada...
O principezinho, então, não pôde conter o seu espanto:
- Como és bonita!
- Sou mesmo, não é? Respondeu a flor docemente.
O principezinho percebeu logo que a flor não era modesta. - Creio que é hora do almoço. Tu poderias cuidar de mim...
E ele, sem graça, buscou água fresca, e regou a flor.
Assim, ela o afligira logo com sua vaidade. Falando dos seus quatro espinhos, dissera:
- É que eles podem vir, os tigres, com suas garras!
- Não há tigres no meu planeta, e tigres não comem erva.
- Não sou uma erva, respondera a flor suavemente.
- Perdoa-me...
- Não tenho receio dos tigres, mas tenho horror de vento. Não terias acaso um pára-vento?
"Horror de vento... estranhou ele. É bem complicada essa flor..."
- À noite ficarei dentro de um vidro, por causa do frio. De onde eu venho...
Mas interrompeu-se de súbito. Viera em forma de semente. Não pudera conhecer nada dos outros mundos. Percebeu que a mentira era tola, tossiu duas ou três vezes, para pôr a culpa no príncipe:
- E o pára-vento?
- Ia buscá-lo. Mas tu me falavas...
Então ela redobrara a tosse para infligir-lhe remorso.
Assim o principezinho, apesar da boa vontade do seu amor, logo duvidara dela. Tomara a sério palavras sem importância, e se tornara infeliz.
"Não a devia ter escutado - confessou-me um dia - não se deve nunca escutar as flores. Basta olhá-las, aspirar o perfume. O perfume da minha se espalhava por todo o planeta, mas eu não me contentava com isso. A tal história das garras, que tanto me aborrecera, me devia ter enternecido..."
Confessou-me ainda:
"Não soube compreender coisa alguma! Devia tê-la julgado pelos atos, não pelas palavras. Ela me perfumava, me iluminava... Não devia jamais ter fugido. São tão contraditórias as flores! Mas eu era jovem demais para saber amar." 


IX
Creio que ele aproveitou, para evadir-se, pássaros selvagens que imigravam. Na manhã da partida, pôs o planeta em ordem. Revolveu cuidadosamente seus dois vulcões em atividade.

O principezinho arrancou também, não sem um pouco de melancolia, os últimos rebentos de baobá. Ele julgava nunca mais voltar. Mas todos esses trabalhos familiares lhe pareceram, aquela manhã, extremamente doces. E, quando regou pela última vez a flor, e se dispunha a colocá-la sob a redoma, percebeu que estava com vontade de chorar.
- Adeus, disse ele à flor.
Mas a flor não respondeu.
- Adeus, repetiu ele.
A flor tossiu. Mas não era por causa do resfriado.
- Eu fui uma tola. Peço-te perdão. Trata de ser feliz.
A ausência de censuras o surpreendeu. Ficou parado, inteiramente sem jeito, com a redoma no ar. Não podia compreender essa calma doçura.
- É claro que eu te amo, disse-lhe a flor. Foi por minha culpa que não soubeste de nada. Isso não tem importância. Foste tão tolo quanto eu. Trata de ser feliz... Deixe em paz a redoma. Não preciso mais dela.
- Mas o vento...
- Não estou assim tão resfriada... O ar fresco da noite me fará bem. Eu sou uma flor.
- Mas os bichos...
- É preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas. Dizem que são tão belas! Do contrário, quem virá visitar-me? Tu estarás longe... Quanto aos bichos grandes, não tenho medo deles. Eu tenho as minhas garras.
Mostrando seus quatro espinhos. Acrescentou:
- Não demores assim, que é irritante. Tu decidiste partir. Vai-te embora!
Ela não queria que ele a visse chorar. Era orgulhosa...

X
O primeiro asteróide era habitado por um rei. O rei sentava-se, vestido de púrpura e arminho, num trono muito simples, posto que majestoso.
- Ah! Eis um súdito, exclamou o rei ao dar com o principezinho.
E o principezinho perguntou a si mesmo:
- Como pode ele reconhecer-me, se jamais me viu?
Ele não sabia que, para os reis, o mundo é muito simplificado. Todos os homens são súditos.
- Aproxima-te, para que eu te veja melhor, disse o rei, todo orgulhoso de poder ser rei para alguém.
O principezinho não encontrou lugar onde sentar-se, mas o planeta estava todo tomado pelo manto de arminho. Ficou, então, de pé. Mas, como estava cansado, bocejou.
- É contra a etiqueta bocejar na frente do rei, disse o monarca, Eu o proíbo.
- Não posso evitá-lo, fiz uma longa viagem e não dormi...
- Então, disse o rei, eu te ordeno que bocejes. Há anos que não vejo ninguém bocejar! Os bocejos são uma raridade para mim. Vamos, boceja! É uma ordem!
- Isso me intimida... eu não posso mais... disse o principezinho todo vermelho.
- Então... então eu te ordeno ora bocejares e ora...
Ele gaguejava um pouco e parecia vexado.
O rei fazia questão da sua autoridade. Não tolerava desobediência. Era um monarca absoluto. Mas, como era muito bom, dava ordens razoáveis.
- Posso sentar-me? interrogou timidamente o principezinho.
- Eu te ordeno que te sentes, respondeu-lhe o rei.
O planeta era minúsculo. Sobre quem reinaria o rei?
- Majestade... eu vos peço perdão de ousar interrogar-vos...
- Eu te ordeno que me interrogues, apressou-se o rei a declarar.
- Majestade... sobre quem é que reinas?
- Sobre tudo.
- Sobre tudo?
O rei, com um gesto discreto, designou seu planeta, os outros, e também as estrelas.
- Sobre tudo isso?
- Sobre tudo isso... respondeu o rei.
Ele não era apenas um monarca absoluto, era universal.
- E as estrelas vos obedecem?
- Claro, obedecem prontamente, não tolero indisciplina.
Um tal poder maravilhou o principezinho. Se ele tivesse esse poder, teria podido assistir a centenas de pores-do-sol no mesmo dia, sem sequer afastar a cadeira! E como se sentisse um pouco triste, ousou pedir ao rei uma graça:
- Queria ver um pôr-do-sol. Ordenai ao sol que se ponha...
- Se eu ordenasse a meu general voar de uma flor a outra como borboleta, e o general não executasse a ordem recebida, quem - ele ou eu - estaria errado?
- Vós, respondeu com firmeza o principezinho.
- Exato. É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar, replicou o rei. A autoridade repousa sobre a razão. Se ordenares a teu povo que ele se lance ao mar, farão todos revolução. Eu tenho o direito de exigir obediência porque minhas ordens são razoáveis.
- E meu pôr-do-sol? lembrou o principezinho.
- Teu pôr-do-sol, tu o terás. Eu o exigirei. Mas eu esperarei que as condições sejam favoráveis.
- Quando serão? indagou o principezinho.
- Como? respondeu o rei. Será às sete horas e quarenta, esta noite. E tu verás como sou bem obedecido.
O principezinho bocejou. Lamentava o pôr-do-sol que perdera. E depois, já estava se aborrecendo um pouco!
- Não tenho mais nada que fazer aqui. Vou seguir viagem.
- Não partas, eu te faço ministro!
- Ministro de quê?
- Da... da justiça!
- Mas não há ninguém a julgar!
- Quem sabe? Ainda não andei todo o reino.
- Oh! Mas eu já vi, não tem ninguém...
- Tu julgarás a ti mesmo. É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues julgar-te bem, eis um verdadeiro sábio.
- Posso julgar-me a mim próprio em qualquer lugar. Não preciso, para isso, ficar morando aqui.
- Ah! disse o rei, eu tenho quase certeza de que há um velho rato no meu planeta. Tu poderás julgar esse rato. Tu o condenarás à morte de vez em quando: assim a sua vida dependerá da tua justiça. Mas tu o perdoarás cada vez, para economizá-lo. Pois só temos um.
- Eu não gosto de condenar à morte, vou mesmo embora.
- Não, disse o rei.
Mas ele estava pronto e não quis afligir o velho monarca:
- Se Vossa Majestade deseja ser obedecido, poderá dar-me uma ordem razoável. Ordene-me, que parta em menos de um minuto. As condições são favoráveis.
Como o rei não disse nada, suspirou e partiu.
- Eu te faço meu embaixador, apressou-se o rei em gritar.
Os adultos são estranhos, pensava, durante a viagem, o principezinho.


XI
No segundo planeta, vivia um vaidoso.
- Ah! Um admirador vem visitar-me! Pensou de longe o vaidoso, mal vira o príncipe.
Porque, para os vaidosos, os outros homens são sempre admiradores.
- Bom dia, disse o principezinho. Você tem um chapéu engraçado.
- É para agradecer quando me aclamam. Infelizmente não passa ninguém por aqui.
- Sim? disse o principezinho sem compreender.
- Bate as mãos uma na outra, aconselhou o vaidoso.
O principezinho bateu as mãos uma na outra. O vaidoso agradeceu modestamente, erguendo o chapéu.
- Ah, isso é mais divertido que a visita ao rei. E recomeçou a bater palmas. O vaidoso voltou a tirar o chapéu.
Após cinco minutos de exercício, o principezinho cansou-se:
- E para o chapéu cair, perguntou ele, que é preciso fazer?
Mas o vaidoso não ouviu. Os vaidosos só ouvem os elogios.
- Não é verdade que tu me admiras muito?
- Que quer dizer admirar?
- Admirar significa reconhecer que eu sou o homem mais belo, mais rico, mais inteligente e mais bem vestido de todo o planeta.
- Mas só há você no seu planeta!
- Dá-me esse gosto. Admira-me mesmo assim!
- Eu te admiro, disse o principezinho, dando de ombros. Mas como pode isso interessar-te?
E o principezinho foi-se embora.
As pessoas grandes são decididamente muito bizarras, ia pensando ele pela viagem afora.

XII
O planeta seguinte era habitado por um bêbado. Esta visita foi curta, mas deixou o principezinho muito triste.
- Que fazes aí? Perguntou ao bêbado, silenciosamente sentado diante de uma coleção de garrafas vazias e cheias.
- Eu bebo, respondeu o bêbado.
- Por que é que bebes? Perguntou-lhe o principezinho.
- Para esquecer, respondeu o beberrão.
- Esquecer o quê? Indagou o principezinho, que já começava a sentir pena.
- Esquecer que eu tenho vergonha, confessou o bêbado, baixando a cabeça.
- Vergonha de quê? Investigou o principezinho, que desejava socorrê-lo.
- Vergonha de beber! concluiu o beberrão, encerrando-se definitivamente no seu silêncio.
E o principezinho foi-se embora, perplexo.
As pessoas grandes são decididamente muito bizarras, dizia de si para si, durante a viagem.

XIII
O quarto planeta era o do homem de negócios. Estava tão ocupado que não levantou sequer a cabeça.
- Bom dia, disse-lhe este.
- Três e 2 são 5. Cinco e 7, 12. Doze e 3, 15. Bom dia. Quinze e 7, 22. Vinte e dois e 6, 28. Vinte e seis e 5, 31. Uf! São pois 501 milhões, 622 mil, 731.
- Quinhentos milhões de quê?
- Hein? Ainda estás aqui? Quinhentos e um milhões de... eu não sei mais... Tenho tanto trabalho. Sou um sujeito sério, não me preocupo com ninharias! Dois e cinco, sete...
- Quinhentos milhões de quê? repetiu o principezinho.
O homem de negócios levantou a cabeça:
- Há 54 anos que habito este planeta e só fui incomodado 3 vezes. A primeira vez foi há 22 anos, por um besouro caído não sei de onde. Fazia um barulho terrível, e cometi 4 erros na soma. A segunda foi há 11 anos, por uma crise de reumatismo. Falta de exercício. Não tenho tempo para passeio. Sou um sujeito sério. A 3ª... é esta! Eu dizia, portanto, 501 milhões...
- Milhões de quê?
O homem compreendeu que não havia esperança de paz:
- Milhões dessas coisinhas que se vêem às vezes no céu.
- Moscas?
- Não, não. Essas coisinhas que brilham.
- Abelhas?
- Também não. Essas coisinhas douradas que fazem sonhar os ociosos. Sou sério, não tenho tempo para isso.
- Ah! estrelas?
- Isso mesmo. Estrelas.
- E que fazes tu de 500 milhões de estrelas?
- Quinhentos e um milhões, 622 mil, 731. Eu sou um sujeito sério. Gosto de exatidão.
- O que fazes tu dessas estrelas?
- Que faço delas?
- Sim.
- Nada. Eu as possuo.
- Tu possuis as estrelas?
- Sim.
- Mas eu já vi um rei que...
- Os reis não possuem, eles "reinam", é muito diferente.
- E de que te serve possuir as estrelas?
- Servem-me para ser rico.
- E para que te serve ser rico?
- Para comprar outras estrelas, se alguém achar.
Esse aí, disse o principezinho, raciocina como o bêbado.
No entanto, fez ainda algumas perguntas.
- Como pode a gente possuir as estrelas?
- De quem são elas? respondeu, o homem de negócios.
- Eu não sei. De ninguém.
- Logo são minhas, porque pensei primeiro.
- Basta isso?
- Sem dúvida. Quando achas um diamante que não é de ninguém, ele é teu. Quando achas uma ilha que não é de ninguém, ela é tua. Quando tens uma idéia primeiro, tua a fazes registrar: ela é tua. E quanto a mim, eu possuo as estrelas, pois ninguém antes de mim teve a idéia de as possuir.
- Isso é verdade. E que fazes tu com elas?
- Eu as administro. Eu as conto e reconto, disse o homem de negócios. É difícil. Mas eu sou um homem sério!
O principezinho ainda não estava satisfeito.
- Eu, se possuo alguma coisa posso levá-la comigo, mas tu não podes levar as estrelas.
- Não. Mas eu posso colocá-las no banco.
- Que quer dizer isto?
- Eu escrevo num papelzinho o número das minhas estrelas. Depois tranco o papel à chave numa gaveta.
- Só isto?
- E basta...
É divertido, é poético, mas não é muito sério...
O principezinho tinha, sobre as coisas sérias, idéias muito diversas das idéias das pessoas grandes.
- Eu, sou útil para as coisas que possuo: minha flor e meus três vulcões, mas tu não és útil às estrelas...
O homem não teve resposta, e o principezinho se foi...
As pessoas grandes são mesmo extraordinárias.


XIV
O quinto planeta era muito curioso. Era o menor de todos. Mal dava para um lampião e o acendedor de lampiões...
O principezinho não podia atinar para que pudessem servir, no céu, num planeta sem casa e sem gente, um lampião e o acendedor de lampiões. No entanto, disse:
- Talvez esse homem seja mesmo absurdo. No entanto, é menos absurdo que o rei, que o vaidoso, que o homem de negócios, que o beberrão. Seu trabalho ao menos tem um sentido. Quando acende o lampião, é como se fizesse nascer mais uma estrela, mais uma flor. Quando o apaga, porém, é estrela ou flor que adormecem. É uma ocupação bonita. E é útil, porque é bonita.
Quando chegou ao planeta, saudou o acendedor:
- Bom dia. Por que acabas de apagar teu lampião?
- É o regulamento, respondeu o acendedor. Bom dia.
- Que é o regulamento?
- É apagar meu lampião. Boa noite.
E tornou a acender.
- Mas por que acabas de o acender de novo?
- É o regulamento, respondeu o acendedor.
- Eu não compreendo, disse o principezinho.
- Não é para compreender, disse o acendedor. Regulamento é regulamento. Bom dia.
E apagou o lampião.
Em seguida enxugou a fronte num lenço.
- Eu executo uma tarefa terrível. Antigamente era razoável. Apagava de manhã e acendia à noite. Tinha o resto do dia para descansar e o resto da noite para dormir...
- E depois disso, mudou o regulamento?
- O regulamento não mudou.O planeta de ano em ano gira mais depressa, e o regulamento não muda!
- E então? disse o principezinho.
- Agora, ele dá uma volta por minuto, não tenho mais um segundo de repouso. Acendo e apago uma vez por minuto!
- Ah! que engraçado! Os dias aqui duram um minuto!
- Não é nada engraçado, disse o acendedor. Já faz um mês que estamos conversando.
- Um mês?
- Sim. Trinta minutos. Trinta dias. Boa noite.
E acendeu o lampião.
O principezinho gostou daquele acendedor tão fiel ao regulamento. Lembrou-se dos pores-do-sol que ele mesmo produzia, recuando a cadeira. Quis ajudar o amigo.
- Sabes? Sei de um modo de descansar quando quiseres...
- Eu sempre quero, disse o acendedor.
Pois a gente pode ser, ao mesmo tempo, fiel e preguiçoso.
E o principezinho prosseguiu:
- Teu planeta é tão pequeno, que podes, com três passos, dar-lhe a volta. Basta andares bem lentamente, de modo a ficares sempre ao sol. Quando quiseres descansar, caminharás... e o dia durará quanto queiras.
- Isso não adianta muito, disse o acendedor. O que eu gosto mais na vida é de dormir.
- Então não há remédio, disse o principezinho.
- Não há remédio, disse o acendedor. Bom dia.
E apagou seu lampião.
Esse aí, disse para si o principezinho, ao prosseguir a viagem para mais longe, esse aí seria desprezado por todos os outros, o rei, o vaidoso, o beberrão, o homem de negócios. No entanto, é o único que não me parece ridículo. Talvez porque é o único que se ocupa de outra coisa que não seja ele próprio.
Suspirou de pesar e disse ainda:
- Era o único que eu podia ter feito meu amigo. Seu planeta é pequeno demais. Não há lugar para dois...
O que o principezinho não ousava confessar é que os 1440 pores-do-sol em 24 horas davam-lhe saudade do planeta.

XV
O sexto planeta era dez vezes maior. Era habitado por um velho que escrevia livros enormes.
- Bravo! eis um explorador!
O principezinho sentou-se cansado. Já viajara tanto!
- De onde vens? perguntou-lhe o velho.
- Que livro é esse? Que faz o senhor aqui?
- Sou geógrafo, respondeu o velho.
- Que é um geógrafo? perguntou o principezinho.
- É um sábio que sabe onde se encontram os mares, os rios, as cidades, as montanhas, os desertos.
É bem interessante, disse o principezinho. Eis, afinal, uma verdadeira profissão! Olhou o planeta do geógrafo. Nunca havia visto planeta tão majestoso.
- O seu planeta é muito bonito. Há nele oceanos, rios, desertos e montanhas?
- Como hei de saber? disse o geógrafo.
- Ah!, mas o senhor é não é geógrafo?
- É claro, mas não sou explorador. Há uma falta absoluta de exploradores. Não é o geógrafo que vai contar todos os acidentes geográficos. Ele é muito importante para estar passeando. Não deixa um instante a escrivaninha. Mas recebe os exploradores, interroga-os, anota as lembranças que lhe parecem interessantes, o geógrafo estabelece um inquérito sobre a moralidade do explorador.
- Por que?
- Porque um explorador que mentisse produziria catástrofes nos livros de geografia. Assim como o explorador que bebesse demais.
- Por que? perguntou o principezinho.
- Porque os bêbados vêem dobrado. Então o geógrafo anotaria duas montanhas onde há uma só.
- Conheço alguém que seria um mau explorador.
- Quando a moralidade do explorador parece boa, faz-se uma investigação sobre a sua descoberta.
- Vai-se ver?
- Não. Seria muito complicado. mas exige-se do explorador que ele forneça provas. Tratando-se, por exemplo, de uma grande montanha, ele trará grandes pedras.
O geógrafo, de súbito, se entusiasmou:
- Vens de longe. És explorador! Descreve-me o teu planeta!
E o geógrafo, pegou seu caderno e lápis. Anotam-se primeiro a lápis as narrações dos exploradores. Escreve-se à tinta depois das provas apresentadas.
- Então? interrogou o geógrafo.
- Onde eu moro, não é interessante: é pequeno. Tem três vulcões, dois em atividade e um extinto. Nunca se sabe...
- A gente nunca sabe, repetiu o geógrafo.
- Tenho também uma flor.
- Mas nós não anotamos as flores, disse o geógrafo.
- Por que não? É o mais bonito!
- Porque as flores são efêmeras.
- Que quer dizer "efêmera"?
- As geografias, disse o geógrafo, são os livros de mais valor. Nunca ficam fora de moda. É muito raro que um monte troque de lugar. É muito raro um oceano esvaziar-se. Nós escrevemos coisas eternas.
- Mas os vulcões extintos podem se reanimar, interrompeu o principezinho. Que quer dizer "efêmera"?
- Que os vulcões estejam extintos não nos interessa mas sim a montanha. Ela não muda.
- Mas que quer dizer "efêmera"?
- Quer dizer "ameaçada de próxima desaparição".
- Minha flor estará ameaçada de próxima desaparição?
- Sem dúvida.
Minha flor é efêmera e não tem mais que quatro espinhos para defender-se do mundo! E eu a deixei sozinha!
Sentiu remorso. Mas retomou coragem:
- Que me aconselha a visitar? perguntou ele.
- O planeta Terra. Goza de grande reputação...
E o principezinho se foi, pensando na flor.


XVI
O sétimo planeta foi, pois a Terra.
A Terra não é um planeta qualquer! Contam-se lá cerca de dois bilhões de pessoas grandes.
Para dar-lhes uma idéia das dimensões da Terra, eu lhes direi que, antes da invenção da eletricidade, era necessário manter, para o conjunto dos 6 continentes, um verdadeiro exército de 462 mil, 511 acendedores de lampiões.
Isto fazia, visto um pouco de longe, um magnífico efeito. Os movimentos desse exército eram ritmados como os de um balé de ópera. Em seqüência teríamos os seguintes acendedores de lampiões: Nova Zelândia, Austrália, China, Sibéria, Rússia, Índia, África, Europa e as Américas. E jamais se enganavam na ordem de entrada, quando apareciam em cena. Era um espetáculo grandioso.
Apenas dois, o acendedor do único lampião do Pólo Norte e o seu colega do único lampião do Pólo Sul, levavam vida ociosa e descuidada: trabalhavam duas vezes por ano.

XVII
Quando a gente quer fazer graça, mente às vezes um pouco. Não fui honesto ao lhes falar dos acendedores de lampiões. Corro o risco de dar uma falsa idéia do planeta. Os homens ocupam, na verdade, muito pouco lugar na superfície da Terra. Se os 2 bilhões de habitantes que povoam a Terra se mantivessem de pé, colados um ao outro, poderíamos ajuntar a humanidade toda na menor das ilhas do Pacífico.
Os adultos não acreditarão, é claro. Elas julgam ocupar muito espaço. Imaginam-se tão importantes como os baobás. Digam-lhes que façam o cálculo. Elas adoram números; ficarão contentes. Vocês, não percam tempo com isso. É inútil. Vocês acreditam em mim.
O principezinho, uma vez na Terra, ficou surpreso, não viu ninguém, pensou ter se enganado de planeta, quando um anel cor de lua remexeu na areia.
- Boa noite, disse o principezinho, inteiramente ao acaso.
- Boa noite, disse a serpente.
- Em que planeta me encontro? perguntou o principezinho.
- Na Terra, na África, respondeu a serpente.
- Ah!... E não há ninguém na Terra?
- Não há ninguém nos desertos. A Terra é grande.
O principezinho sentou-se numa pedra e olhou para o céu:
- As estrelas são todas iluminadas... Não será para que cada um possa um dia encontrar a sua? Olha o meu planeta: está em cima de nós... Mas como está longe!
- Teu planeta é belo. Que vens fazer aqui?
- Tive dificuldades com uma flor, disse o príncipe.
- Ah! exclamou a serpente.
E se calaram.
- Onde estão os homens? repetiu enfim o principezinho. A gente está um pouco só no deserto.
- Entre os homens também, disse a serpente.
O principezinho olhou-a longamente.
- Tu és um bichinho engraçado, fino como um dedo...
- Mas sou mais poderosa do que o dedo de um rei.
O principezinho sorriu.
- Tu não és poderosa, não tens patas, não podes viajar...
- Eu posso levar-te mais longe que um navio.
Ela enrolou-se na perna do príncipe, como um bracelete de ouro:
- Aquele que eu toco, eu devolvo à terra de onde veio, mas tu és puro. Tu vens de uma estrela...
O principezinho não respondeu.
- Tenho pena de ti, fraco, nessa Terra de pedra. Posso ajudar-te um dia, se tiver saudade do teu planeta. Posso...
- Oh! Eu compreendi muito bem, disse o principezinho. Mas por que falas sempre por enigmas?
- Eu os resolvo todos, disse a serpente.
E calaram-se os dois.

XVIII
O principezinho atravessou o deserto e encontrou apenas uma flor. Uma flor de três pétalas, uma florzinha à-tôa...
- Boa dia, disse o príncipe.
- Boa dia, disse a flor.
- Onde estão os homens? perguntou polidamente.
A flor, um dia, vira passar uma caravana:
- Os homens? Eu creio que existem seis ou sete. Vi-os há muitos anos. Mas não se pode nunca saber onde se encontram. O vento os leva. Eles não têm raízes. Eles não gostam das raízes.
- Adeus, disse o principezinho.
- Adeus, disse a flor.
XIX
O principezinho escalou uma grande montanha. As únicas montanhas que conhecera eram os três vulcões que lhe davam pelo joelho. O vulcão extinto servia-lhe de tamborete. "De montanha tão alta, pensava ele, verei todo o planeta e todos os homens..." Mas só viu agulhas de pedra, pontudas.
- Bom dia, disse ele inteiramente ao léu.
- Bom dia... Bom dia... Bom dia... respondeu o eco.
- Quem és tu? perguntou o principezinho.
- Quem és tu... quem és tu... quem és tu... respondeu o eco.
- Sede meus amigos, eu estou só, disse ele.
- Estou só... estou só... estou só, respondeu o eco.
"Que planeta engraçado! pensou então. É todo seco, pontudo e salgado. E os homens não tem imaginação. Repetem o que a gente diz... No meu planeta eu tinha uma flor: e era sempre ela que falava primeiro".

XX
Mas aconteceu que o principezinho, tendo andado muito tempo pelas areias, pelas rochas e pela neve, descobriu, enfim, uma estrada. E as estradas vão todas na direção dos homens.
- Bom dia, disse ele.
Era um jardim cheio de rosas.
- Bom dia, disseram as rosas.
O principezinho contemplou-as. Eram todas iguais à sua flor.
- Quem sois? perguntou ele estupefato.
- Somos rosas, disseram as rosas.
- Ah! exclamou o principezinho...
E ele sentiu-se extremamente infeliz. Sua flor lhe havia contado que ela era a única de sua espécie em todo o universo. E eis que havia cinco mil, iguaizinhas, num só jardim!
"Ela haveria de ficar bem vermelha, pensou ele, se visse isto... Começaria a tossir, fingiria morrer, para escapar do ridículo. E eu então teria que fingir que cuidava dela; porque senão, só para me humilhar, ela era bem capaz de morrer de verdade..."
Depois, refletiu ainda: "Eu me julgava rico de uma flor sem igual, e é apenas uma rosa comum que eu possuo. Uma rosa e três vulcões que me dão pelo joelho, um dos quais extinto para sempre. Isso não faz de mim um príncipe muito grande..." E, deitado na relva, ele chorou.


XXI
E foi então que apareceu a raposa:
- Boa dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. não me cativaram ainda.
- Ah! desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer "cativar"?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer "cativar"?
- Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que fazem. Tu procuras galinhas?
- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...
- É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra...
- Oh! não foi na Terra, disse o principezinho.
A raposa pareceu intrigada:
- Num outro planeta?
- Sim.
- Há caçadores nesse planeta?
- Não.
- Que bom! E galinhas?
- Também não.
- Nada é perfeito, suspirou a raposa.
Mas a raposa voltou à sua idéia.
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.
O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor... cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.
- Que é um rito? perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!
Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis, disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.
- Vou, disse a raposa.
- Então, não sais lucrando nada!
- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.
Foi o principezinho rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela á agora única no mundo.
E as rosas estavam desapontadas.
- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.
E voltou, então, à raposa:
- Adeus, disse ele...
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.


XXII
- Bom dia, disse o principezinho.
- Bom dia, respondeu o guarda-chaves.
- Que fazes aqui! perguntou-lhe o principezinho.
- Eu divido os passageiros em blocos de mil, disse o guarda-chaves. Despacho os trens que os carregam, ora para a direita, ora para a esquerda.
E um rápido iluminado, roncando como um trovão, fez tremer a cabine do guarda-chaves.
- Eles estão com muita pressa, disse o principezinho. O que é que estão procurando?
- Nem o homem da locomotiva sabe, disse o guarda-chaves.
E trovejou, em sentido inverso, um outro rápido iluminado.
- Já estão de volta? perguntou o principezinho...
- Não são os mesmos, disse o guarda-chaves. É uma troca.
- Não estavam contentes onde estavam?
- Nunca estamos contentes onde estamos, disse o guarda-chaves.
- E um terceiro rápido, iluminado, trovejou.
- Estão perseguindo os primeiros viajantes? perguntou o principezinho.
- Não perseguem nada, disse o guarda-chaves. Estão dormindo lá dentro, ou bocejando. Só as crianças esmagam o nariz nas vidraças.
- Só as crianças sabem o que procuram, disse o principezinho. Perdem tempo com uma boneca de pano, e a boneca se torna muito importante, e choram quando a gente toma...
- Elas são felizes... disse o guarda-chaves.

XXIII
- Bom dia, disse o principezinho.
- Bom dia, disse o vendedor.
Era um vendedor de pílulas aperfeiçoadas eu aplacavam a sede. Toma-se uma por semana e não é mais preciso beber.
- Por que vendes isso? perguntou o principezinho.
- É uma grande economia de tempo, disse o vendedor. Os peritos calcularam. A gente ganha cinqüenta e três minutos por semana.
- E o que se faz, então, com os cinqüenta e três minutos?
- O que a gente quiser...
"Eu, pensou o principezinho, se tivesse cinqüenta e três minutos para gastar, iria caminhando passo a passo, mãos no bolso, na direção de uma fonte..."
XXIV
Já havia 8 dias da quebra do motor. Quando bebia a última gota de água, ouvi a história do vendedor.
- Ah! disse eu ao principezinho, são bonitas as tuas lembranças, mas preciso consertar meu avião, não tenho mais nada para beber, e eu seria feliz se pudesse ir caminhando passo a passo, mãos no bolso, na direção de uma fonte!
- Minha amiga raposa me disse...
- Meu caro, não se trata mais de raposa!
- Por quê?
- Porque vamos morrer de sede...
Ele não compreendeu o meu raciocínio, e respondeu:
- É bom ter tido um amigo, mesmo se a gente vai morrer. Eu estou muito contente de ter tido a raposa por amiga...
- Não avalia o perigo, disse eu. Não tem nunca fome ou sede. Um raio de sol lhe basta...
Mas ele me olhou e respondeu ao que eu pensava:
- Tenho sede também... procuremos um poço...
- Eu fiz um gesto de desânimo: é absurdo procurar um poço ao acaso, na imensidão do deserto. No entanto, pusemo-nos a caminho.
Já tínhamos andado horas em silêncio quando a noite caiu.  As palavras do principezinho dançavam-me na memória:
- Tu tens sede também? perguntei-lhe.
Mas não respondeu à minha pergunta. Disse apenas:
- A água pode ser boa para o coração...
Não compreendi sua resposta e calei-me...
Ele estava cansado. Sentou-se. Sentei-me junto dele. E, após um silêncio, disse ainda:
- As estrelas são belas por causa de uma flor que não se vê...
Eu respondi "é mesmo" e fitei, sem falar, a ondulação da areia enluarada.
- O deserto é belo, acrescentou...
E era verdade. Eu sempre amei o deserto. A gente se senta numa duna de areia. Não se vê nada. Não se escuta nada. E no entanto, no silêncio, alguma coisa irradia...
O que torna belo o deserto, é que ele esconde um poço.
Fiquei surpreso por compreender de súbito essa misteriosa irradiação da areia. Quando eu era pequeno, habitava uma casa antiga, e diziam as lendas que ali fora enterrado um tesouro. Ninguém, é claro, o conseguira descobrir, nem talvez mesmo o procurou. Mas ele encantava a casa toda. Minha casa escondia um tesouro no fundo do coração...
- Quer se trate de casa, das estrelas ou do deserto, disse eu ao principezinho, o que faz sua beleza é invisível!
- Estou contente, que estejas de acordo com a raposa.
Como o principezinho adormecesse, tomei-o nos braços e prossegui a caminhada. Eu estava comovido. Tinha a impressão de carregar um frágil tesouro. Parecia-me mesmo não haver na Terra nada mais frágil. Considerava, à luz da lua, a fronte pálida, os olhos fechados, as mechas de cabelo que tremiam ao vento. E eu pensava: o que eu vejo não é mais que uma casca. O mais importante é invisível...
Como seus lábios entreabertos esboçassem um sorriso, pensei ainda: "O que tanto me comove nesse príncipe adormecido é sua fidelidade a uma flor; é a imagem de uma rosa que brilha nele como a chama de uma lâmpada, mesmo quando dorme..." Eu o pressentia então mais frágil ainda. É preciso proteger as lâmpadas com cuidado: um sopro as pode apagar...
E, caminhando assim, eu descobri o poço. O dia estava raiando.

XXV
- Os homens, se fecham em veículos, mas não sabem o que procuram. Então eles se agitam, ficam rodando à toa...
E acrescentou:
- E isso não adianta...
O poço a que tínhamos chegado não se parecia de forma alguma com os poços do Saara que são simples buracos na areia. Aquele, parecia um poço de aldeia, mas não havia ali aldeia alguma, e eu julgava sonhar.
- É estranho, disse eu ao principezinho, tudo está preparado: a roldana, o balde e a corda.
Ele riu, pegou a corda, fez girar a roldana que gemeu como os velhos cata-ventos.
- Tu escutas? Estamos acordando o poço, ele canta...
Eu não queria que ele fizesse esforço:
- Deixa que eu puxe é muito pesado para o teu tamanho.
Lentamente, icei o balde até em cima.
- Tenho sede dessa água. Dá-me de beber...
E eu compreendi o que ele havia buscado!
Levantei-lhe o balde até a boca. Ele bebeu, de olhos fechados. Era doce como uma festa. Essa água era muito mais que alimento. Nascera da caminhada sob as estrelas, do canto da roldana, do esforço do meu braço. Era boa para o coração, como um presente. Quando eu era pequeno, todo o esplendor do presente de Natal estava também na luz da árvore, na música da missa de meia-noite, na doçura dos risos...
- Os homens do teu planeta, cultivam cinco mil rosas num mesmo jardim... e não encontram o que procuram...
- Não encontram, respondi...
- E no entanto o que eles buscam poderia ser achado numa só rosa, ou num pouquinho d'água...
- É verdade.
E o principezinho acrescentou:
- Mas os olhos são cegos. É preciso buscar com o coração...
Eu havia bebido. Respirava facilmente. A areia é cor de mel quando amanhece. E a cor de mel me fazia feliz. Por que haveria eu de estar triste?...
- É preciso, disse baixinho o príncipe, que cumpras a tua promessa. Ele estava, de novo, sentado junto de mim.
- Que promessa?
- Tu sabes... a mordaça do meu carneiro... eu sou responsável pela flor!
Tirei do bolso as minhas tentativas de desenho. O principezinho os viu e disse rindo:
- Teus baobás parecem um pouco repolhos...
- Oh! Eu estava tão orgulhoso de meus baobás!
- As orelhas da raposa parecem chifres são compridas!
Ele riu outra vez.
- És injusto, eu só sabia desenhar jibóias.
- Não faz mal, disse ele, as crianças entendem.
Rabisquei, uma pequena mordaça. Mas sentia, ao entregá-la, um aperto no coração:
- Tu tens projeto que eu ignoro...
Ele não me respondeu. Mas disse:
- Lembras-te da minha queda na Terra? Amanhã será o aniversário...
Depois, após um silêncio, acrescentou:
- Caí pertinho daqui...
E ficou vermelho ao dizê-lo.
E de novo, sem compreender porque, eu sentia um estranho pesar. No entanto, ocorreu-me a pergunta:
- Então não foi por acaso que vagavas sozinho, quando te encontrei, há oito dias, a milhas e milhas de qualquer região habitada! Não estarias voltando ao ponto da queda?
O principezinho ficou vermelho de novo.
E eu acrescentei, hesitando:
- Terá sido por causa do aniversário?...
O principezinho ficou mais vermelho. Não respondia nunca às perguntas. Mas quando a gente fica vermelho, não é o mesmo que dizer "sim"?
- Ah! disse-lhe eu, eu tenho medo...
Mas ele respondeu:
- Tu deves agora trabalhar. Ir em busca do teu aparelho. Espero-te aqui. Volta amanhã de tarde...
Mas eu não estava tranqüilo. Lembrava-me da raposa. A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar...
XXVI
Havia, ao lado do poço, a ruína de um velho muro de pedra. Quando voltei do trabalho, no dia seguinte, vi, de longe, o principezinho sentado no alto, com as pernas balançando. E eu o escutei dizer:
- Tu não te lembras então? Não foi bem aqui o lugar!
Uma outra voz devia responder-lhe, porque replicou em seguida:
- Não; não estou enganado. O dia é este, mas não o lugar...
Prossegui o caminho para o muro. Continuava a não ver ninguém. No entanto o principezinho replicou novamente:
- ... Está bem. Tu verás onde começa, na areia, o sinal dos meus passos. Basta esperar-me. Estarei ali esta noite.
Eu me achava a vinte metros do muro e continuava a não ver nada. O principezinho disse ainda, após um silêncio:
- O teu veneno é do bom? Estás certa de que não vou sofrer muito tempo?
Parei, o coração apertado, sem compreender ainda.
- Agora, vai-te embora, disse ele... eu quero descer!
Então baixei os olhos para o pé do muro, e dei um salto! Lá estava, erguida para o principezinho, uma dessas serpentes amarelas que nos liquidam num minuto. Enquanto procurava o revólver no bolso, dei uma rápida corrida.
Mas, percebendo o barulho, a serpente se foi encolhendo lentamente, como um repuxo que morre. E, sem se apressar demais, enfiou-se entre as pedras, num leve tinir de metal.
Cheguei ao muro a tempo de receber nos braços o meu caro principezinho, pálido como a neve.
- Que história é essa? Tu conversas agora com as serpentes?
Desatei o nó do seu eterno lenço dourado. Umedeci-lhe as têmporas. Dei-lhe água. E agora, não ousava perguntar-lhe coisa alguma. Olhou-me gravemente e passou-me os bracinhos no pescoço. Sentia-lhe o coração bater de encontro ao meu, como o de um pássaro que morre, atingido pela carabina. Ele me disse:
- Estou contente de teres descoberto o defeito do maquinismo. Vais poder voltar para casa...
- Como soubeste disso?
- Eu vinha justamente anunciar-lhe que, realizei o conserto!
Nada respondeu à minha pergunta, mas acrescentou:
- Eu também volto hoje para casa...
Depois, com melancolia, ele disse:
- É bem mais longe... bem mais difícil...
Eu percebia claramente que algo de extraordinário se passava. Apertava-o nos braços como se fosse uma criancinha; mas tinha a impressão de que ele ia deslizando verticalmente no abismo, sem que eu nada pudesse fazer para detê-lo...
Seu olhar estava sério, perdido ao longe:
- Tenho o teu carneiro. E a caixa para o carneiro. E a mordaça...
Ele sorriu com tristeza.
Esperei muito tempo. Pareceu-me que ele ia se aquecendo de novo, pouco a pouco:
- Meu querido, tu tiveste medo...
É claro que tivera. Mas ele sorriu docemente.
- Terei mais medo ainda esta noite...
O sentimento do irreparável gelou-me de novo. E eu compreendi que não podia suportar a idéia de nunca mais escutar esse riso. Ele era para mim como uma fonte no deserto.
- Meu bem, eu quero ainda escutar o teu riso...
Mas ele me disse:
- Faz um ano esta noite. Minha estrela se achará justamente em cima do lugar onde eu caí o ano passado...
- Meu bem, não será um sonho mau essa história d serpente, de encontro marcado, de estrela?
Mas não respondeu à minha pergunta. E disse:
- O que é importante, a gente não vê...
- A gente não vê...
- Será como a flor. Se tu amas uma flor que se acha numa estrela, é doce, de noite, olhar o céu. Todas as estrelas estão floridas.
- Todas as estrelas estão floridas.
- Será como a água. Aquela que me deste parecia música, por causa da roldana e da corda... Lembras-te como era boa?
- Lembro-me...
- Tu olharás, de noite, as estrelas. Onde eu moro é muito pequeno, para que eu possa te mostrar onde se encontra a minha. É melhor assim, Minha estrela será então qualquer das estrelas. Gostarás de olhar todas elas... Serão, todas, tuas amigas. E depois, eu vou fazer-te um presente...
Ele riu outra vez.
- Ah! meu pedacinho de gente, como eu gosto de ouvir esse riso!
- Pois é ele o meu presente... será como a água...
- Que queres dizer?
- As pessoas têm estrelas que não são as mesmas. para uns, que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para outros, os sábios, são problemas. Para o meu negociante, eram ouro. mas todas essas estrelas se calam. Tu, porém, terás estrelas como ninguém...
- Que queres dizer?
- Quando olhares o céu de noite, saberás que habito numa delas, numa delas estarei rindo, então será como se todas as estrelas te rissem! E tu terás estrelas que sabem rir!
E ele riu mais uma vez.
- E quando te houveres consolado (a gente sempre se consola), tu te sentirás contente por me teres conhecido. Tu serás sempre meu amigo. Terás vontade de rir comigo. E abrirás às vezes a janela à toa, por gosto... E teus amigos ficarão espantados de ouvir-te rir olhando o céu. Tu explicarás então: "Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!" E eles te julgarão maluco.
E riu de novo.
- Será como se eu te houvesse dado, em vez de estrelas, montões de guizos que riem...
E riu de novo, mais uma vez. Depois, ficou sério:
- Esta noite... tu sabes... não venhas.
- Eu não te deixarei.
- Eu parecerei sofrer... eu parecerei morrer. É assim. Não venhas ver. Não vale a pena...
- Eu não te deixarei.
Mas ele estava preocupado.
- Eu digo isto... também por causa da serpente. É preciso que não te morda. As serpentes são más. Podem morder por gosto...
- Eu não te deixarei.
Mas uma coisa o tranqüilizou:
- Elas não têm veneno, para uma segunda mordida...
Essa noite, não o vi pôr-se a caminho. Evadiu-se sem rumor. Quando consegui apanhá-lo, caminhava decidido, a passo rápido. Disse-me apenas:
- Ah! estás aqui...
E ele me tomou pela mão. Mas afligiu-se ainda:
- Fizeste mal. Tu sofrerás. Eu parecerei morto e não será verdade... - Eu me calava.
- Tu compreendes. É longe demais. Eu não posso carregar este corpo. É muito pesado. - Eu me calava.
- Mas será como uma velha casca abandonada. Uma casca de árvore não é triste... - Eu me calava.
Perdeu um pouco de coragem. Mas fez ainda um esforço:
- Será bonito, sabes? Eu também olharei as estrelas. Todas as estrelas serão poços com uma roldana enferrujada. Todas as estrelas me darão de beber... - Eu me calava.
- Será tão divertido! Tu terás quinhentos milhões de guizos, eu terei quinhentos milhões de fontes...
E ele se calou também, porque estava chorando...
- É aqui. Deixa-me dar um passo sozinho.
E sentou-se, porque tinha medo.
Disse ainda:
- Tu sabes... minha flor... eu sou responsável por ela! Ela é tão frágil! Tão ingênua! Tem quatro espinhos de nada para defendê-la do mundo...
Eu sentei-me também, pois não podia mais ficar de pé.
- Pronto... Acabou-se... - Ele disse:
Hesitou ainda um pouco, depois ergueu-se. Deu um passo. Eu... eu não podia mover-me.
Houve apenas um clarão amarelo perto da sua perna. Permaneceu, por um instante, imóvel. Não gritou. Tombou devagarinho como uma árvore tomba.
Nem fez sequer barulho, por causa da areia.

XXVII
E agora, certamente, já se vão seis anos... Jamais contara essa história. Os camaradas ficaram contentes de ver-me são e salvo. Eu estava triste, mas dizia: É o cansaço...
Agora já me consolei um pouco. Mas não de todo. Sei que ele voltou ao seu planeta; pois, ao raiar do dia, não lhe encontrei o corpo. Não era um corpo tão pesado assim... E gosto, à noite, de escutar as estrelas. Quinhentos milhões de guizos...
Mas eis que sucede uma coisa extraordinária. Na mordaça que desenhei para o principezinho, esqueci de juntar a correia! Não poderá jamais prendê-la ao carneiro. E eu pergunto então: "Que se terá passado no planeta? Pode bem ser que o carneiro tenha comido a flor..."
Ora eu penso: "Certamente que não! O principezinho encerra a flor todas as noites na redoma de vidro e vigia bem o carneiro..." Então, eu me sinto feliz. E todas as estrelas riem docemente.
Ora eu digo: "Uma vez ou outra a gente se distrai e basta isto! Esqueceu uma noite a redoma de vidro ou o carneiro saiu de mansinho, sem que fosse notado..." Então os guizos se transformam todos em lágrimas!...
Eis aí um mistério bem grande. Para vocês, que amam também o principezinho, como para mim, todo o universo muda de sentido, se num lugar, que não sabemos onde, um carneiro, que não conhecemos, comeu ou não uma rosa...
Olhem o céu. Perguntem: Terá ou não terá o carneiro comido a flor? E verão como tudo fica diferente...
E nenhuma pessoa grande jamais compreenderá que isso tenha tanta importância.
Esta é, para mim, a mais bela paisagem do mundo, e também a mais triste. É a mesma da página precedente. Mas desenhei-a de novo para mostrá-la bem. Foi aqui que o principezinho apareceu na terra, e desapareceu depois.

Olhem atentamente esta paisagem para que estejam certos de reconhecê-la, se viajarem um dia na África, através do deserto. E se acontecer passarem por ali, eu lhes suplico que não tenham pressa e que esperem um pouco bem debaixo da estrela! Se então um menino vem ao encontro de vocês, se ele ri, se tem cabelos de ouro, se não responde quando interrogam, adivinharão quem é. Então, por favor, não me deixem tão triste: escrevam-me depressa que ele voltou...